O trabalho realizado até ao momento permitiu obter muita informação sobre as argamassas dos quatro monumentos em estudo e sobre o seu estado de conservação. Permitiu também obter indicações importantes sobre a estratégia de conservação a adoptar e os materiais e técnicas a usar nas intervenções.
No que se refere à Sé de Évora destacam-se as seguintes conclusões gerais.
As argamassas interiores das paredes da torre do Zimbório são argamassas de cal cálcica e agregado granitóide, sem constituintes hidráulicos, apresentando um raio médio de poro da ordem de 0,7 μm. Apresenta resistência à compressão relativamente baixa e capilaridade relativamente elevada. Esta constituição e características são compatíveis com uma argamassa bastante antiga, possivelmente original (séc. XIV).
As várias amostras das argamassas interiores das paredes das naves laterais são de cal dolomítica e agregado granitóide, com raio médio de poro de cerca de 0,4 μm e resistência à compressão superior e capilaridade inferior às argamassas da torre do Zimbório. Os revestimentos destas paredes são constituídos por várias camadas de argamassa, todas elas com constituição bastante semelhante, excepto uma ou outra zona em que foi detectada uma camada de estuque de gesso sobre camadas do tipo já referido. Além disso, todas possuem halite (cloreto de sódio) na sua composição, usada propositadamente, certamente para acelerar o endurecimento. Estes elementos indicam que as argamassas interiores destas naves são todas aproximadamente da mesma época, mais recentes que as da torre do Zimbório. O cruzamento com a informação histórica situa-as nos séc. XVI ou XVII.
As argamassas exteriores apresentam constituição idêntica às interiores, devendo ser portanto de época não muito afastada.
Estes resultados contradizem os vários relatos encontrados em bibliografia que afirmam ter havido extracção dos rebocos interiores e substituição por novos rebocos hidráulicos na década de 1930, pela DGEMN. Parecem também mostrar que a composição usada para as argamassas de reboco se manteve inalterada durante períodos de tempo relativamente alargados, já que a existência de várias camadas, com inclusão de camadas de acabamento/caiação posteriormente recobertas por novas camadas de regularização indicam a existência de várias campanhas, provavelmente com intenção de reparação. Parte destes dados sobre as várias camadas foram obtidos em ensaios recentes e não estão ainda incluídos nos textos já publicados.
As conclusões referidas, juntamente com o estudo estratigráfico dos rebocos no local, que permitiu perceber toda uma técnica interessante e elaborada de execução de fingidos de pedra através de altos-relevos e baixos-relevos de argamassa (esgrafitos), fundamentam recomendações para a conservação cuidada dos rebocos existentes, usando técnicas de consolidação e colmatando as lacunas com materiais e técnicas idênticos aos originais.
Na vila de Mértola foram estudadas amostras do período romano (torre do Rio) e do período árabe (igreja matriz). Todas as amostras foram retiradas de zonas seleccionadas, de modo a haver probabilidades de não terem sido substituídas em épocas recentes.
O estudo das argamassas atribuídas ao período árabe (talvez séc. XII) mostrou que estas argamassas foram aplicadas em três camadas, todas elas constituídas por cal aérea cálcica (exceptua-se uma das camadas em que se detectaram vestígios de magnesite) e agregado de proveniência aluvionar. Este revestimento é ainda decorado com várias camadas de caiação pigmentada com ocre vermelho. Uma das argamassas estudadas (camada de acabamento interior, da zona do mihrab) é constituída por estuque de gesso com vestígios de cal e quase sem agregado. Esta constatação reveste-se de bastante interesse, já que o uso de estuques de gesso em Portugal, no período árabe, não tem sido até agora comprovado por ensaios, apesar de serem conhecidos esses revestimentos em Espanha (em que a ocupação árabe se prolongou até mais tarde). Também neste caso se verificou que, embora os registos bibliográficos relatem demolições e extracção de rebocos em intervenções realizadas pela DGEMN entre 1940 e 1974, subsistem algumas argamassas antigas, possivelmente originais e que devem, portanto, ser preservadas, pelo seu valor testemunhal.
As argamassas romanas são argamassas de cal aérea cálcica com fragmentos de tijolo e pó de tijolo, que lhe conferem alguma hidraulicidade.
O estudo das argamassas de Mértola vai ainda ser completado com a análise de amostras recolhidas em 2006, de várias zonas, incluindo argamassas do baptistério (período romano) e mais argamassas do período árabe.
Na sé de Elvas estudaram-se amostras de argamassas de revestimento de paredes exteriores e interiores (subjacente ao assentamento de azulejos do século XVII) e uma argamassa de tecto com decorações em estilo brutesco. Estas argamassas revelaram ser de cal aérea cálcica com agregados siliciosos provenientes de rochas ígneas e metamórficas e ainda parcelas de agregados carbonatados. Continham também fragmentos de tijolo e pó de tijolo com características pozolânicas. Apenas a camada de acabamento da argamassa do tecto apresentou composição totalmente diversa, verificando-se tratar-se de um estuque de gesso, que, devido ao estilo das decorações (brutescas, típicas do barroco nacional), se admite datar do séc. XVII.
Também neste caso de estudo se verificou existirem argamassas em bom estado de conservação com séculos de idade, provavelmente originais, justificando-se a sua conservação cuidada.
As argamassas de Amieira do Tejo estudadas eram argamassas interiores do castelo, de cal aérea e agregado silicioso, de composições semelhantes. A informação histórica existente permite atribuir-lhes datações prováveis dos séculos XVI - XVII, que são consistentes com as constituições determinadas.
Estes trabalhos demonstraram a importância da aplicação de uma metodologia de ensaio bastante completa, com recurso a várias técnicas, de modo a caracterizar o melhor possível as argamassas antigas, de grande complexidade e heterogeneidade e a extrair das amostras recolhidas o máximo de informação. A necessidade de um bom entrosamento entre as técnicas de ensaio e a informação histórica ficou também amplamente demonstrado. Também a importância do cruzamento com a caracterização física se revelou muito interessante, no único caso de estudo (sé de Évora) em que foi iniciado.
A caracterização física, essencial para a compreensão do desempenho das argamassas e, em consequência, também para a tomada de decisões sobre a estratégia de conservação a implementar, encontra-se em curso mas tem que ser bastante aprofundada, melhorada a sua análise conjunta e cruzada com os restantes dados. Em particular as potencialidades das técnicas de estudo da estrutura porosa têm que ser melhor exploradas, uma vez que a estrutura porosa influencia decisivamente o comportamento e a durabilidade das argamassas e é um factor decisivo a ter em conta na formulação de argamassas de substituição.