Castelo de Amieira do Tejo

Planta de localização do Castelo de Amieira do Tejo.

Castelo de Amieira do Tejo. Foto: DGEMN.

Planta do Castelo de Amieira do Tejo.

Fachada principal da capela de S. João Baptista.

Abóbada da capela de S. João Baptista.

O Castelo de Amieira do Tejo está integrado na longa e antiga linha de defesa de fortalezas do Tejo e, tendo em conta as suas características artísticas e arquitectónicas, foi decretado Monumento Nacional em 1922 sendo depois, em 1923, classificado como Monumento Militar pelo Ministério da Guerra.

O corpo principal (com as quatro torres em cada ângulo) terá sido construído por iniciativa de D. Álvaro Gonçalves Pereira entre 1350-1360, já com algumas edificações no interior do pátio, das quais apenas restarão as fundações. A cisterna, no centro do mesmo pátio, datará do século XV, embora tenha existido no mesmo local outra mais antiga. Pensa-se que numa primeira fase o castelo teria sobretudo funções militares.

O castelo apresenta uma planta quadrada, com quatro torres também quadradas pontuando cada extremo, sendo a torre de menagem a de maiores dimensões. A envolvê-lo encontra-se ainda a barbacã (muro anteposto às muralhas e mais baixo do que estas para defender o fosso), hoje livre, em grande medida, das construções anexas que a ela se adossavam. No interior do recinto, ao centro, encontra-se a cisterna e vários vestígios das construções que anteriormente ali se ergueram.

A actual porta de entrada, aberta na barbacã, data das intervenções realizadas pela DGEMN no século XX, embora tenha existido, mais ou menos no mesmo local, outra porta, de vão rectangular, retratada no desenho de Tinoco, cerca de 1620.

Cada torre apresenta ainda frestas (com destaque para a fresta trilobada na fachada Norte) e fenestrações em arco quebrado, podendo ver-se na fachada Este da torre de S. João Baptista um exemplar com arquivoltas lisas alternadas por um sulco e assentes em capitéis de finos motivos vegetalistas, possivelmente do século XV. No alçado Sul da torre do Sanguinho outro janelão de arco quebrado apresenta em torno do arco uma decoração com meias esferas, elemento datado dos séculos XV-XVI.

Num dos tramos da barbacã, na face leste, situa-se a capela de S. João Baptista, um pequeno edifício de planta rectangular (6,5 x 10 m), provavelmente construído em 1556.

A Capela de S. João Baptista, dada a sua proeminência e “abertura” à vila, poderia mesmo ser um ponto de paragem de soldados ou viajantes antes de seguirem pelo Tejo, através da “barca da Amieira”, elemento cuja importância nunca é demais sublinhar na sua relação com a vila.

A Capela de S. João Baptista do Castelo de Amieira do Tejo apresenta um interior muito simples, com uma planta rectangular, em que o comprimento é o dobro da largura, uma proporção desde sempre utilizada nos templos cristãos, por reflectir as medidas divinas. Existe uma pequena pia de água benta do lado direito, bem como uma porta, no mesmo alçado, de acesso ao recinto do Castelo.

As referências que o monumento tem merecido dizem respeito ao programa decorativo da sua abóbada de canhão, que é integralmente decorada com doze caixotões, preenchidos por grotescos de inspiração maneirista, com motivos vegetalistas, animais fantásticos, geométricos, antropomórficos e híbridos. Os caixotões estão bem definidos por nervuras de perfil quadrangular, em tijolo, revestidos com argamassa de cor creme, trabalhada de forma a adquirir um aspecto rugoso no interior e liso ao longo das arestas, como é habitual ocorrer nos elementos em pedra lavrada, imitando o trabalho da bujarda.

A solução arquitectónica utilizada no tecto da Capela de S. João Baptista reflecte, pois, um gosto erudito, alinhando este edifício com outros de feição classicizante. Nas proximidades da vila de Amieira existem diversos exemplos onde foi utilizada a solução do tecto de caixotões, devendo lembrar-se o primeiro tramo da Matriz do Crato (século XVI), a capela-mor da Igreja Matriz de Montalvão e a capela-mor da Igreja de Pedrógão Pequeno, ligada aos frades de Malta.

As paredes da capela, com aproximadamente 1 m de espessura, são de alvenaria de pedra e estão revestidas com argamassa provavelmente com base em cal.

Relativamente às intervenções realizadas no Castelo ou na Capela, poucas referências existem. Consta que os primeiros trabalhos de reparação no Castelo datam do reinado de D. João II (1484-1495), prosseguindo no reinado seguinte, altura em que foram realizadas obras nos muros e fortalezas da Vila de Amieira.

O castelo degradou-se durante o prolongado período de inactividade bélica que se seguiu, encontrando-se documentada a seguinte descrição da situação em que este se encontrava em 1759: “das quatro torres não terem já sobrados, nem telhados e a sala principal entre as duas primeiras torres está arruinada”.

É sabido que em 1846 foi instalado no interior do castelo (praça de armas) o cemitério da aldeia, tendo este vindo a funcionar durante muitos anos; a bibliografia refere que “todo o chão livre do Castelo” e “uma parte do terreno compreendido entre a frontaria do monumento e a respectiva barbacã” foram ocupados por obras funerárias. No decorrer deste período o acesso ao cemitério ou ao próprio castelo era efectuado unicamente através da Capela de São João Baptista.

Referências

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Botto, Margarida, Castelo de Amieira do Tejo, Guia, Lisboa, IPPAR, 2001.

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Wevers, Leo, "Castelo de Amieira do Tejo. Levantamento no âmbito da arqueologia da arquitectura", Estudos - Património, 10, 2007, pp. 133-147 | pdf

Publicações relacionadas

Cruz, T.; Santos Silva, A., Caracterização de argamassas da Igreja de Nossa Sr.ª da Assunção (Elvas) e do castelo da Amieira do Tejo (Nisa), Relatório LNEC 215/06-NMM, 2006, 113 pp. | pdf

Botto, Margarida Donas, "O Castelo de Amieira do Tejo – enquadramento histórico e razões de uma intervenção", Estudos - Património, 10, 2007, pp. 125-132 | pdf

Links

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